23.3.07

Tinha olhos grandes, muito grandes.
Olhos de morte, até onde eu conseguia desvendá-los. Mudos, mas incansavelmente comunicantes.
Pupilas que em vida não mais conheci, que me refletiam, cru, deformado, como devia ser.
Eu sentia dedos que não havia me tocarem, mãos me puxarem, um grito, um suspiro, um pedido de socorro - não!, de compreensão.

- Vai, garoto, e segue teu caminho! Corre pelas terras que eu nunca ousei, vê as estrelas que eu nunca entendi, ama os teus como eu nunca pude.
Porque a vida é um matadouro para todos nós e estar do outro lado da cerca é só uma forma de tu ganhares tempo.
Não te impressiones com o que é certo e não tem remédio. Há fardos maiores, dores piores, lâminas mais afiadas e tal tu descobrirás
algum dia
quando, talvez,
voltares a lembrar de mim.